Dez anos depois. No fim de setembro de 2002, jornalões e revistões enxergavam Lula como se vê acima. E o operário ganhou as eleições… |
Depois vem a verdade factual, a popularidade de Lula, avassaladora. E
vem o confronto com os tempos de Presidência tucana, e o triste fim de
Fernando Henrique Cardoso, o esquecido, no Brasil e no mundo. Assim
respondem os meus meditativos botões às perguntas acima. E as respostas
geram outra pergunta.
Por que a mídia nativa, intérprete da casa-grande,
goza ainda de prestígio até junto a quem ataca diária e obsessivamente
se seus candidatos perdem os embates eleitorais decisivos? Memento
2002, 2006, 2010. Mesmo agora, véspera dos pleitos municipais, as
coisas não estão bem paradas para os preferidos de jornalões e
revistões. Será que o jornalismo brasileiro dos dias de hoje faz apostas
erradas? Defende o indefensável?
Na semana passada publiquei os números da verba publicitária
governista distribuída entre as empresas midiáticas. Mais de 50 milhões
para a Globo. Para nós, pouco mais de 100 mil reais. E sempre há quem
apareça para nos definir como “chapa-branca”… E a Editora Abril, então?
Na compra de livros didáticos, fica com a parte do leão em um negócio
imponente que em 2012 já lhe assegurou a entrada de 300 milhões. Pode-se
imaginar o que seus livros ensinam. Enquanto isso, a Petrobras acaba de
cancelar um contrato de 11 milhões que estava para ser fechado com a
casa do Murdoch brasileiro. Vem a calhar, a confirmar-lhe tradições e
intentos, a última capa da sua querida Veja, ponta de lança na estratégia da guerra contra Lula.
A revista de Policarpo Jr., parceiro de Carlinhos Cachoeira em
algumas empreitadas, produz esta semana mais uma obra-prima de
antijornalismo. Formula acusações gravíssimas contra Lula sem esclarecer
quem as faz (Marcos Valério ou seus pretensos apaniguados?), mas nome
algum é citado, e o advogado do publicitário mineiro desmente a
publicação murdoquiana. Ricardo Noblat (porta-voz de Veja?)
informa no seu blog que a Abril vai divulgar o áudio de uma entrevista
com Valério, e horas depois comunica que Policarpo Jr. convenceu a
direção da Abril a deixar para lá, ao menos por ora.
Quanta ponderação, por parte de Policarpo… Suas relações com Cachoeira CartaCapital
provou com documentos tão irrefutáveis quanto inúteis: a CPI não vai
convocá-lo para depor, como seria digno de um país democrático, porque o
solerte presidente-executivo abriliano foi ter com o vice-presidente da
República para lembrá-lo de que se Veja for julgada, todos os demais da mídia nativa entram na dança.
Este específico enredo prova as dificuldades de
governar o país da casa-grande e da senzala. É preciso recorrer a
alianças que funcionam como a bola de ferro atada aos pés do convicto e
padecer como vice o representante de um partido pronto a ceder diante
das pressões da Abril. E da Globo, como CartaCapital relatou ao
longo da cobertura da CPI do Cachoeira. Resta o fato: a mídia nativa é
bem menos poderosa do que os graúdos supõem, inclusive os do próprio
governo.
Uma exceção talvez seja São Paulo, com sua capital dos shoppings
milionários, da maior frota de helicópteros do mundo depois de Nova
York, de favelas monstruosas a rodear os bairros endinheirados, de mil
homicídios anuais (5 mil no estado). Refiro-me à cidade e ao estado mais
reacionários do Brasil. Aqui tudo pode acontecer. De todo modo, os
senhores, de um lado e do outro, caem na mesma esparrela dos jornalistas
que os apoiam ou os denigrem. Os jornalistas e seus patrões, na certeza
da ignorância da plateia, acabaram por assumir o nível mental que
atribuem a seus leitores, ouvintes e assistentes. Os graúdos apoiados
agarram-se em fio desencapado, os ofendidos temem um poder em vias de
extinção. E não percebem que a tentativa de demonizar Lula consegue é
endeusá-lo.
Fonte: Revista Carta Capital
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