sábado, 9 de outubro de 2010

BALANÇO DAS ELEIÇÕES 2010 - COMENTÁRIO DE CESAR SANSON

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(6'30'' / 1.49 Mb) – Apesar da indefinição de quem será o próximo presidente da República, um primeiro balanço, mesmo que parcial das eleições de 2010 já é possível. As análises em profusão do day after (dia depois) eleitoral indicam que o maior vitorioso das eleições 2010 sequer irá para o segundo turno, no caso, uma vitoriosa: Marina Silva. Entre os perdedores até o momento encontram-se Dilma Rousseff (PT) pela razão óbvia de não ter liquidado a fatura no primeiro turno, e José Serra (PSDB) – aparentemente vitorioso por ter ido segundo turno – mas ao mesmo tempo perdedor porque de nome competitivo da oposição dependeu de uma terceira candidatura para se viabilizar na continuidade da disputa.

No balanço de ganhadores e perdedores sob a perspectiva partidária, o maior derrotado é o DEM que diminuirá significativa sua presença no Congresso e o maior ganhador o PT considerando-se que terá a maior bancada na Câmara e um aumento significativo no Senado. PSDB e PMDB ao lado do PT, entretanto, permanecem como as principais forças políticas ainda mais quando se analisam os resultados das eleições para os governos estaduais.

Lula, até o momento é paradoxalmente perdedor e ganhador. Perdedor, por um lado, em função da estratégia de grande avalista de Dilma Rousseff. Toda a campanha de Dilma foi pendurada nos feitos de Lula. O programa de governo de Dilma foi o 'lulismo'. A não eleição do sucessor, no caso uma sucessora, no primeiro turno como muitos aguardavam é uma derrota pessoal de Lula. Por outro lado, Lula é vitorioso considerando que a sua aposta pessoal se transformou em uma candidatura competitiva. Ainda mais: é incontestável que Lula conseguiu algo pouco comum no mundo da política que é a transferência de votos e essa transferência não se reduziu à candidatura à presidência, mas se estendeu a dezenas de candidatos aos governos estaduais e senadores. Particularmente no Nordeste, a participação de Lula foi devastadora para a oposição.

A grande surpresa das eleições é Marina Silva. Arrancou de um patamar de 10% para 20% e se tornou peça chave no quebra cabeça do segundo turno. Trata-se, sobretudo de uma vitória pessoal e não do partido. Aos poucos, as análises dão conta que o maior contingente de votos de Marina veio por um lado da classe média e, por outro, de eleitores de periferias de grandes centros urbanos ligado a valores morais e religiosos. O voto urbano da classe média dado à Marina Silva – a candidata do PV teve votações expressivas em várias capitais – teria duas características: Por um lado, recebeu o voto de setores da classe média sensível a agenda ambiental. Por outro, setores da mesma classe média teriam sido seduzidos pelo discurso da candidata que se apresentou como terceira via e síntese do PT-PSDB.  Esse discurso agradou setores da classe média por natureza antipolítica.

Os votos em Marina, portanto, alimentaram-se por um lado de uma onda verde, interpretado por alguns como algo positivo na sociedade brasileira uma vez que critica o modelo neo-desenvolvimentista que dá as costas para a problemática ambiental. Nessa perspectiva, esse voto é visto como progressista e politizado. Outros consideram o "voto verde" como um voto conservador e até mesmo despolitizado. Talvez haja um pouco dos dois elementos nos votos dados a Marina com essa caracterização. Por um lado, recebeu votos dos que a vêem como portadora de uma agenda nova que procura dar respostas à crise ecológica, por outro, daqueles que votam embalados pelo discurso do bussines ecológico patrocinado pelo capital.

Além dessa dupla caracterização do "voto verde" que teria recebido, Marina recebeu milhares de votos daqueles que a identificaram contra o aborto e contra a união matrimonial de homossexuais. Esse voto, em muitos casos, era anteriormente de Dilma e se deslocou para Marina.

Há, porém, para além do 'voto verde' e do 'voto religioso' em Marina, o voto daqueles que descontentes com PT e PSDB, ou rejeitando Dilma e Serra, votaram em Marina Silva. É preciso estar presente aqui o caso Erenice Guerra. Esse escândalo teria contribuído para o esvaziamento do debate político, na medida em que amplificado pela grande imprensa direcionou o debate para uma agenda udenista.

Por outro lado, o PT e o PSDB não privilegiaram o debate político no primeiro turno. Os dois principais partidos sequer apresentaram na íntegra os seus programas – projetos – para o país. O PT apostou todas as sua fichas nas conquistas e avanços do governo Lula, prometendo que Dilma seria a fase dois do governo Lula. Serra, por sua vez, correu atrás da agenda neodesenvolvimentista do PT, prometendo que fará ainda melhor. O debate por demais gerencista e tecnicista estaria na base de parcela dos votos que também teriam migrado para Marina.

É bastante provável que entrem em cena com mais vigor na campanha os movimentos sociais que estiveram um tanto ausentes até o momento e contribuam para a politização do debate político tal como aconteceu em 2006. Parcela do movimento social, particularmente o movimento sindical integrou-se à campanha de Dilma Rousseff. Outros setores, entretanto, como as pastorais sociais e até o próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)  participaram de forma tímida. Com uma participação mais ativa dos movimentos sociais, espera-se que o segundo turno seja mais politizado.

Cesar Sanson - Pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores e doutor em sociologia pela UFPR.

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