segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ARGUMENTOS PRÓ-DILMA, CONTRA SERRA

Publicado no site www.cartamaior.com.br 

Há um argumento constante que paira sobre e sob a argumentação demo-tucana: é o de que Serra estaria “melhor preparado” para exercer a presidência. Sem dúvida, ele é mais preparado para privatizar tudo o que encontrar pela frente e para, como lembrou Chico Buarque, falar grosso com a Bolívia e fino com os EUA.

Além das campanhas de medo e terror disseminadas pelo lado mais obscuro da campanha pró-Serra, há um argumento constante que paira sobre e sob a argumentação demo-tucana: é o de que Serra estaria “melhor preparado” para exercer a presidência. Há até quem diga que ele é um “mau candidato” (concordo com esse lado da argumentação), mas que seria um “bom presidente”.

Mas o “melhor preparado” exige uma complementação: melhor preparado para fazer o quê?


Ora, é fácil contextualizar que, sem dúvida, Serra é o melhor preparado para:

1) Privatizar tudo o que encontrar pela frente. Ele foi um dos capitães das privatizações no governo FHC. Os governos do PSDB privatizaram o que puderam em SP; e um dos últimos atos de Serra no governo do estado foi a tentativa de privatizar a Nossa Caixa – felizmente barrada pela ação do governo federal, através do Banco do Brasil (que deverá ser privatizado também, no caso de uma vitória serrista).

2) Como lembrou Chico Buarque no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, Serra é o melhor preparado para falar grosso com a Bolívia, como o próprio candidato já deu prova, e fino com os Estados Unidos. Posso ajuntar: também com o FMI, de cuja tutela escapamos durante o governo Lula. Agora o FMI, em seus relatórios, recomenda que o Brasil diminua a atividade de seus bancos estatais – justamente aquela atividade que nos fez sair rápida e com poucas seqüelas da crise financeira mundial. Mas se Serra for eleito, podemos contar com a obediência firme, segura e nada gradual a essa diretriz da ortodoxia econômica. E a chave das relações internacionais brasileiras não é “falar grosso” ou “falar fino”, mas agir com serenidade e firmeza na defesa dos nossos interesses em todos os planos e com uma estratégia de multi-lateralismo e tratamento igualitário dos múltiplos atores presentes, o que tem sido a marca diferencial, em relação aos anteriores, do governo Lula e da diplomacia liderada também por Celso Amorim.

3) Mas falando em falar grosso e fino, Serra também é o melhor preparado para falar grosso com os movimentos sociais e fino com o “espinhaço do agro-business”, onde teve suas mais expressivas vitórias no primeiro turno. Ele será certamente o melhor preparado para voltar a acelerar o desmatamento da Amazônia, sem falar em jogar outras questões ambientais para debaixo do tapete. Nada mais estranho a questões ambientais do que o PSDB de Serra e o DEM de Índio da Costa.

4) Serra também é o melhor preparado para cercear o crescimento e a atividade da Petrobrás, para fatia-la, e para entregar as reservas do pré-sal e outras que houver às grandes multinacionais do setor, impedindo a sua exploração soberana pelo Brasil, mesmo que com acordos com capitais de outras proveniências. O pré-sal pode se tornar a origem de um grande fundo de investimento social, em educação, saúde, tecnologia, segurança – se for administrado soberanamente (o que não quer dizer isolamento) pelo Brasil, ao invés da política de inserção subordinada ao Ocidente que é a marca da visão de mundo demo-tucana.

5) Serra também já se mostrou o melhor preparado para substituir a política consistente de valorização do salário mínimo e do poder aquisitivo da maioria da população por propostas demagógicas, porque sem lastro, de promessas de aumentos bruscos no setor e nas aposentadorias. É também o melhor preparado para desconstruir políticas sociais de longo alcance e para devolver o que restar de pobres nesse país aos currais eleitorais do DEM, como era antes, ao tempo da hegemonia PSDB/PFL.

6) Serra, que considera “normal” a distribuição de panfletos apócrifos com calúnias à adversária, como os apreendidos em Guarulhos, na gráfica da irmã de um de seus coordenadores de campanha (outro fato "normal") já se mostrou também o melhor preparado para conceber a liberdade de imprensa e expressão dentro da ótica de “aos amigos tudo, aos inimigos o rigor da lei” – quando não do arbítrio. Afinal foi um dos jornais que apóiam expressamente sua campanha que demitiu uma jornalista reconhecida nacionalmente, por delito de opinião durante essa eleição, além de ter sido a campanha de Serra que pediu o cerceamento da circulação de revista que trazia Dilma na capa – e pediu ainda que isso ficasse oculto – “em segredo de justiça”.

7) Enfim, Serra já se mostrou o melhor preparado para tornar-se uma espécie de biruta de aeroporto em matéria de formulação de políticas, dizendo o que lhe vem à cabeça conforme a circunstância de seu público, sem se preocupar com uma defesa coerente de uma proposta organizada, que é exatamente o que Dilma vez fazendo, com serenidade e determinação, apesar de constantemente difamada e caluniada.

Pode haver muito mais. A idéia central (cujo autor inicial é um amigo meu) é a de sempre inserir entre os argumentos essa pergunta: melhor preparado para o quê?

Por outro lado, nas discussões que vão se seguir, é sempre necessário manter a calma nas argumentações. Haverá provocações, e de todos os tipos. O episódio do rolo de adesivo no Rio de Janeiro é eloqüente: haja o que houver, a responsabilidade por qualquer confronto será sempre atribuída “ao PT” pela mídia conservadora que apóia Serra.

Ademais, o lado mais obscuro que apóia Serra tentou jogar sangue e armas nas mãos de Dilma, falsificando fichas policiais, fotos, dossiês, devido a seu heróico passado de resistência à ditadura. Não conseguiram. Mas certamente alguém deve estar tramando então como jogar sangue nas mãos dela agora, na reta final da campanha. O melhor, para esse tipo de pensamento, seria um cadáver. Mas na falta disso, qualquer gota de sangue serve.

Assim, qualquer confronto deve ser evitado, assim como qualquer provocação deve ser recusada.

Também é bom lembrar o seguinte: a história da quebra de sigilo de tucanos, além de fazer parte das atividades de uma quadrilha de contraventores comuns, sem objetivo político, começou a adquirir tais contornos por seu envolvimento na disputa entre Serra e Aécio, pela candidatura do PSDB. Não houve qualquer envolvimento nem aproveitamento por parte da campanha de Dilma nisso. Erenice, por sua vez, está sendo investigada. Paulo Preto, ao contrário, está sendo protegido. E ainda não se esclareceu até agora que tipo de poder esse Paulo tem sobre Serra, a ponto de poder lhe dirigir uma ameaça através da Folha de S. Paulo. Perguntado sobre o assunto no Jornal Nacional, território 
que, em tese, lhe seria propício, Serra fugiu da raia.

É o que costuma fazer quem não tem nada a dizer. 

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

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