Por João Antônio Felício
Os sinais desta ameaça se multiplicam e é urgente que a sociedade civil se organize para defendê-la uma vez que o direito a informação, a veiculação de idéias e a publicização de diversos pontos de vista é base da democracia. A ameaça à liberdade de imprensa, portanto, é a ameaça à democracia.
Quem atenta contra essa condição básica da democracia? Basicamente as oito famílias que dominam mais de 80% da mídia impressa, falada e televisionada, e seus satélites, que estabeleceram uma verdadeira ditadura de pensamento único nos meios de comunicação no nosso País.
É unânime entre essa mídia que Sem Terra é um misto de terroristas com criminosos comuns, que greve é baderna, que organização sindical é um amontoado ilegítimo de espertalhões almejando apenas apossarem-se do dinheiro dos trabalhadores, que políticas afirmativas ou programas sociais são desperdícios, paternalismos ou cooptação política. Uma mídia tão engajada que, quando os educadores do mais rico estado da federação - que têm salários inferiores aos dos colegas de treze outros estados mais pobres - deflagraram uma greve em defesa do salário e da escola pública, faz inequívoco coro à oposição acusando o movimento de político/partidário, assim como acusam qualquer luta de trabalhadores, quando os patrões são demotucanos.
Quando o movimento sindical e social, na sua imensa maioria, quer a reeleição de um projeto político que beneficiou a grande maioria da população é acusado de “chapa branca” e atrelado. E quanto à reduzidíssima parcela de sindicalistas que apóiam José Serra? São o quê?
Eu mesmo, tanto quando presidente da APEOESP como da CUT já fui caluniado e agredido por essa mídia. Sendo que me foi dado como direito de resposta uma “cartinha” no painel do leitor. Outros nem isso.
Uma mídia preconceituosa e rancorosa que se recusa a dar espaço para os 80% da população que apóiam o governo e optou por dialogar unicamente com os 4% que o avaliam como ruim ou péssimo. Avaliação essa, resultado do ressentimento por perceberem que os “outros” (pobres, negros, nordestinos, moradores da periferia) agora têm acesso aos mesmos bens de consumo e o atendimento pelo Estado, que antes era privilégio dessa elite.
A escalada de atentados à liberdade de imprensa - portanto à democracia - está atingindo o seu ápice às vésperas da eleição, que passará para a história como o período em que a mídia nacional ultrapassou todos os limites na partidarização, manipulação das informações e em apoio a um candidato em detrimento de outro, ou outra, no caso específico.
As ações deliberadas na malfadada reunião do Instituto Millenium, em São Paulo, no mês de março deste ano, que para os incautos seriam apenas manifestações de indivíduos mais radicais, são colocadas em prática cotidianamente e sem nenhum constrangimento.
Em meio ao conjunto de panfletos políticos em que se transformaram a maioria das publicações, a Revista Veja, a Folha de São Paulo, o Estadão e o Sistema Globo conseguem um destaque especial. Parece que resolveram estabelecer uma disputa particular para ver quem consegue produzir a reportagem mais escandalosa, que mais sirva aos interesses do candidato tucano, baseadas em menos informações reais, a partir de denúncias das pessoas mais desqualificadas.
Talvez por ser diária, a Folha têm conseguido superar até mesmo a Veja, que se notabilizou, ao longo desses oito anos como disseminadora de calúnias as mais estapafúrdias. Mas, evidentemente, o Estadão, a Zero Hora e os diversos veículos das organizações Globo não ficam para trás e têm dado sua relevante contribuição ao objetivo deliberado no convescote de março de impedir “a qualquer custo” a eleição no primeiro turno da ex-ministra Dilma Rousseff.
Duas reportagens da Folha de São Paulo, deveriam ser guardadas pelos professores de comunicação como exemplos de jornalismo partidarizado, mentiroso e de baixo nível. Uma é a que responsabiliza Dilma por suporto prejuízo de R$ 1 bi devido à falha na cobrança da conta de luz, sendo que foi, justamente no governo Lula que se iniciou a correção do erro cometido durante o tucanato.
O outro é a inacreditável reportagem – até para os padrões da Folha - , com chamada de capa do último dia 16. Baseando-se em dois e-mails com solicitações de audiência e na declaração de um ex-presidiário, acusado de receptação de carga roubada, falsificação de dinheiro e coação de testemunhas, que a Folha promoveu a empresário e depois “consultor”, armou-se novo escândalo com o objetivo mais do que explícito de prejudicar a campanha da candidata do PT. Enquanto isso, os escândalos dos governos tucanos, como espionagem e malversação do dinheiro público no Rio Grande do Sul e o abafamento de mais de 90 CPIs em São Paulo, não passam de notas de rodapé.
Essas e outras reportagens sempre são repercutidas, avaliadas e avalizadas por “comentaristas” e “especialistas”. Os primeiros, empregados fiéis que colocam a sua pena, sua língua e seu cérebro (e os poucos que têm, a sua própria biografia) à serviço dos projetos de poder dos patrões, sem nenhum tipo de constrangimento. Os segundos, na maioria das vezes, obscuros e medíocres professores universitários ou notórios militantes demo/tucanos, na pele de “intelectuais independentes” produzem análises cheias de termos pomposos para repetir exatamente o que pensam, ou mandam pensar, os barões da mídia nacional. A moda mais recente é alertar para uma possível “mexicanização” do Pais, esquecendo que em São Paulo o mesmo grupo mantem hegemonia política por 16 anos.
Ainda faltam dez dia para o primeiro turno e, apesar de tudo que já vimos, certamente teremos mais surpresas e novas provas da vilania que esse diminuto grupo de poderosos é capaz de produzir. A perspectiva não é nada boa, pois quando pensamos que a nossa mídia chegou ao fundo do poço ela se supera e produz algo ainda mais vil e antijornalístico. Sua maior perversidade, entretanto, não é somente quando fazem a crítica caluniosa, desleal e partidarizada e sim quando negam à vítima o direito de resposta e o contraditório acusando-a, sempre, de tentar cercear a liberdade de imprensa. Como se fossemos nós que estivéssemos tentando tirar a liberdade de imprensa. Isto é, a vítima se transforma em algoz.
As eleições vão passar. Dilma Rousseff, para o orgulho de milhões de brasileiras e brasileiros, será a primeira mulher presidente da República, PT e os partidos aliados elegerão a maioria dos governos estaduais e conseguiremos maioria na Câmara e no Senado. Vamos impor uma derrota acachapante à direita e sua mídia que ainda não conseguiram entender que vamos ganhar as eleições porque o povo está satisfeito com um governo que tirou dezenas de milhões da miséria e com um presidente que sabe fazer a interlocução com essa população e não se limita a dialogar com os “formadores de opinião”.
O grande latifúndio da mídia, entretanto, não sofrerá uma “reforma agrária”. Continuarão, por um bom tempo, exercendo essa política nefasta. Desde já - conscientes da derrota do seu candidato - tentam pautar o novo governo, procurando impor o “seu” programa de governo como se fosse uma demanda legítima de toda a sociedade que, não obstante, o rejeitará nas urnas.
A sua radical militância ideológica e partidária, embora não o percebam ainda, vai levá-los a cavarem a própria sepultura. Todos sabem que o maior patrimônio de um veículo de comunicação é a sua credibilidade. A aposta insana e sem êxito, que fazem em destruir, por qualquer meio, um governo com maior popularidade da história do país têm dilapidado esse patrimônio e prenuncia o ocaso destas poderosas máquinas de mídia.
Outros importantes veículos de comunicação começam a crescer no país. Revistas, jornais, rádios e tvs verdadeiramente democráticos e plurais começam a surgir, as informações veiculadas nos blogs independentes já alimentam boa parte dos leitores e colocam em cheque as mentiras e interpretações maliciosas da grande mídia.
A democratização dos meios de comunicação e a verdadeira liberdade de imprensa, opinião e debate representam uma onda irreversível, as poderosas famílias já têm o seu poder ameaçado.
É bem provável que daqui a alguns anos grande parte dessas gigantescas empresas de comunicação sejam apenas objeto de estudo de historiadores, que se surpreenderão ao constatarem o quanto a liberdade de imprensa e a democracia estiveram em perigo no nosso país.
*João Antônio Felício é secretário Sindical Nacional do PT e secretário de Relações Internacionais da CUT
Acesse o site do diretório estadual PT Ceará
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