Ciclo Vivo - O Dia Mundial da Água é uma ótima oportunidade para refletirmos sobre este bem precioso e finito. Para quem vive nas grandes metrópoles ou em cidades bastante desenvolvidas, com condições mínimas de saneamento básico, tratamento e distribuição de água, pode parecer difícil imaginar que ainda existam 800 milhões de pessoas em todo o mundo sem acesso à água de boa qualidade e 1,1 bilhão de pessoas não possuem saneamento básico.
“A água da lagoa que fui obrigado a pegar estava muito suja e tinha um cheiro ruim. Devido às minhas caminhadas distantes para coletar água, às vezes eu ficava atrasada para ir ao trabalho. Minhas filhas e eu sofremos de diarreia, icterícia, disenteria e doenças de pele por causa da água suja.” Este é o depoimento de Banu, uma viúva que vive em uma favela de Bagladesh com suas duas filhas e trabalha como empregada doméstica. A história foi compartilhada pela ONG Water e retrata parte do sofrimento diário de pessoas excluídas, que não possuem o acesso básico à água potável.
Hoje a vida de Banu é diferente graças à perfuração de um poço profundo em sua comunidade. Assim, não é mais necessário caminhar 40 minutos por dia em busca de água. No entanto, esta rotina ainda é um fato recorrente na vida de muitas mulheres. Segundo a ONG, em um só dia, mulheres de todo o mundo somam 200 milhões de horas de trabalho dedicados à coleta de água para suas famílias. Este seria o tempo necessário para construir 28 prédios do tamanho do Empire State Building, em Nova York.
A Water ainda disponibiliza outros dados sobre a quantidade de pessoas, principalmente crianças, que morrem por doenças causadas pelo consumo de água contaminada. Hoje, a cada 20 segundos uma criança falece diante destas condições. O cenário teve uma melhora, já que há dois anos levavam 15 segundos para cada uma das mortes infantis. Isso significa que em uma hora 180 crianças morrem e, em um dia, o número de mortes é de 4.320.
Os dados alarmantes não parecem ser suficientes para mudar o destino dos investimentos governamentais. As estimativas são de que menos de 50% dos projetos destinados ao saneamento tem sucesso. Para piorar, menos de 5% deles são visitados e apenas 1% tem acompanhamento em longo prazo.
Mesmo nos locais que possuem estrutura de saneamento básico, outros problemas são enfrentados. No Brasil, 37% da água tratada é perdida no caminho entre a estação e a casa do consumidor. Segundo fontes da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), diariamente 27,1 milhões de habitantes de SP recebem água de qualidade em suas torneiras. No entanto, as perdas neste processo seriam suficientes para abastecer mais 13,55 milhões de consumidores. O Japão é o país mais eficiente neste setor, com perda de apenas 3% da água limpa distribuída.
No início do mês de março autoridades internacionais se reuniram no 6º Fórum Mundial da Água, com o intuito de discutir estratégias práticas para melhorar a gestão e distribuição de água potável no mundo. O grande foco do encontro foi abrir espaço para essa discussão e incentivar os governos a voltarem suas atenções a este tema. As propostas, como a criação de Conselho de Desenvolvimento Sustentável na ONU, destinado a tratar temas como a água, serão trazidas para a pauta da Rio+20, que acontecerá em junho, no Rio de Janeiro.
Thaís Teisen
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