O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), abriu mão da disputa interna no PT pela presidência da Câmara. Com a decisão, o vice-presidente da Câmara, Marco Maia (RS), será o indicado da bancada para presidir a Câmara no biênio 2011-2012.
A decisão foi tomada em conturbada reunião da bancada petista realizada nesta terça-feira (14). O deputado Arlindo Chinaglia (SP) também pretendia ser o candidato do partido ao comando da Câmara. Mas sem apoio suficiente, retirou o nome da disputa interna do PT e declarou apoio a Marco Maia.
Ao anunciar a desistência, Chinaglia argumentou que o indicado do PT deveria ser alguém com “trânsito em todas as correntes do partido”. Na contagem feita por Chinaglia, 22 dos 88 parlamentares apoiariam sua indicação.
As correntes Mensagem (segundo em número de deputados na Câmara), Movimento PT e Articulação de Esquerda, que apoiavama Chinaglia, prometeram transferir o apoio para o deputado gaúcho. Com isso, se a decisão fosse a voto, Maia teria pelo menos 50 dos 88 votos da bancada.
A manobra foi condenada por integrantes do grupo de Cândido Vaccarezza (SP), que já previam dificuldades para mantê-lo forte na disputa.
Vaccarezza é ligado ao grupo majoritário no PT, a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), enquanto Maia integra a corrente Movimento PT. Um grupo de pelo menos 15 dos aproximadamente 50 deputados do CNB já havia sinalizado ao longo das últimas semanas a intenção de apoiar Maia ou Chinaglia, embora Vaccarezza trabalhasse há pelo menos um ano para se viabilizar no cargo.
Pauta sindical
A reunião da bancada, que seria nesta manhã, foi adiada para a tarde porque a bancada entendeu que ainda havia chance de consenso e resolveu conversar, abrindo também a possibilidade para os candidatos construírem maioria dentro do partido. Ao chegar ao encontro, pela manhã, Maia mostrou disponibilidade em encontrar um consenso. Já Vaccarezza reconheceu a dificuldade de consenso ao afirmar que não havia “favoritos, nem nomes naturais” no processo de escolha.
Vaccarezza teve seu nome contestado publicamente nos últimos dias por militantes petistas e líderes sindicais depois que concedeu uma entrevista à revista Veja apontando supostos "equívocos" nas pauta sindical junto ao legislativo e se aproximando de opiniões alinhadas com setores conservadores. Além disso, Vaccarezza é atritado com várias correntes de seu próprio partido por seu estilo agressivo no trato das divergências.
Vanessa: bloco irá debater plataforma
Para a deputada federal e senadora eleita Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), esse resultado é fruto do que o deputado Cândido Vaccarezza plantou. "Não nos intrometemos nos assuntos do PT. Posicionando-me como integrante da Câmara e líder de um partido influente na Casa, percebo que a decisão levou mais em conta os interesses do conjunto da Câmara do que os interesses do PT em estrito senso. Efetivamente, havia grande resistência à candidatura de Vaccarezza, pelos métodos com que se conduz no trato dos deputados e das bancadas. A candidatura do deputado Marcos Maia é uma boa notícia. Ele tem origem operária, foi militante do movimento operário e sindical no Rio Grande do Sul, é um político agregador, homem do diálogo, modesto, capaz de escutar seus interlocutores políticos", avalia a deputada comunista.
Mesmo fazendo essa avaliação, a deputada Vanessa Grazziottin considera que é cedo para o PCdoB anunciar seu apoio à candidaturade Maia. "O Partido está empenhado neste momento na construção de um bloco com o PSB, o PDT, o PRB e possivelmente o PV, para a partir daí debater uma plataforma política a ser implementada na próxima gestão da mesa da Câmara", afirmou.
Batalha prolongada
Além do comando da Casa, a disputa interna no PT envolve outros cargos de poder como a liderança da bancada e a presidência de comissões importantes da Câmara. Após a escolha do candidato a presidente, feita em dois turnos de votação, os petistas irão escolher o futuro líder da bancada.
Os antagonismos no seio do PT são apenas o primeiro episódio de uma longa disputa até a decisão de quem será o presidente da Câmara dos Deputados. O partido fez um acordo com o PMDB para governar a Casa nos próximos quatro anos. Ao PT caberia o primeiro biênio. Mas o acordo não é compartilhado por outros partidos que compõem a aliança que levou Dilma à vitória nas eleições presidenciais. Além de possuir conteúdo centrista, denota um inaceitável monopólio do poder pelas duas legendas.
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