O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira em seu discurso na reunião do G20, na Coreia do Sul, que não deixará para sua sucessora Dilma Rousseff, que o acompanha na viagem à Ásia, uma “herança maldita” como a que recebeu ao assumir a Presidência, em 2003.
– A presidenta Dilma não vai fazer discurso algum dizendo que recebeu uma herança maldita do presidente Lula porque ela ajudou a construir tudo que nós fizemos até agora – afirmou o presidente, acrescentando que o Brasil “vive seu melhor momento em décadas”.
Dilma participou com Lula da reunião de líderes dos países que formam o G20, grupo de maiores economias do mundo, para discutir temas da economia global, como a desvalorização das moedas da China e do Estados Unidos. O presidente ampliou as críticas ao seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, que governou o país entre 1995 e 2002 e deixou o país em situação de crise no cenário mundial. Ele falou também da situação difícil encontrada pelo seu colega norte-americano Barack Obama quando assumiu a Presidência dos EUA.
– O Obama recebeu uma herança maldita, que foi uma crise financeira sem precedentes. E eu recebi uma herança maldita, que era um país andando para trás. Nossa geração não terá herança maldita – afirmou.
Acordo
Na reunião dos líderes do G20, foi produzido um acordo para que todos os países-membros do grupo passem a enfrentar as “tensões e vulnerabilidades” globais que fizeram surgir o fantasma de uma guerra cambial e de protecionismo comercial. Os países desenvolvidos e emergentes chegaram a um consenso durante a cúpula em Seul para estabelecer “linhas indicativas” vagas para medir os desequilíbrios entre suas economias, mas, abrindo um parênteses para acalmar alguns ânimos, deixaram os detalhes pendentes, que serão discutidos no primeiro semestre de 2011.
Em um comunicado assinado no fim da reunião, os líderes se comprometeram em avançar para taxas de câmbio determinadas pelo mercado e evitar desvalorizações com fins competitivos.
“Os riscos continuam”, afirmou o comunicado. “Alguns de nós estão experimentando um forte crescimento, enquanto outros sofrem com altos níveis de desemprego e uma recuperação fraca. O crescimento desigual e o aumento dos desequilíbrios estão alimentando a tentação de passar de soluções globais para ações não coordenadas.
Os negociadores trabalharam até as primeiras horas da manhã para redigir um acordo que todos os líderes poderiam aprovar, apesar das profundas divisões que emergiram nos dias anteriores à cúpula. Os ânimos esquentaram em torno do programa de compra de bônus anunciado pelo Federal Reserve para reforçar a recuperação dos Estados Unidos, e a piora dos problemas de dívida da Irlanda serviram como lembrete de que o sistema financeiro não está curado.
– Este não foi um festival de paz e amor – disse uma autoridade que participou das negociações.
Em particular, os líderes não conseguiram chegar a um consenso para determinar quando os desequilíbrios globais representam uma ameaça à estabilidade econômica, comprometendo-se a uma discussão sobre o tema no primeiro semestre do ano que vem.
– A credibilidade do G20 não depende de mostrar resultados… Não podemos sair dele com políticas que empobreçam nossos vizinhos. Precisamos, ao invés disso, continuar coordenando nossas ações para frente. A recuperação é frágil. Não creio que o o fato de que ainda não chegamos lá, de que ainda não resolvemos todos esses problemas, signifique que cairemos – disse o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper.
Nova rotina
Presidente eleita há duas semanas, Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira em Seul que irá se acostumar ao novo aparato presidencial e que cumprirá o mandato “a bom termo”.
– Eu me acostumo com esse aparato porque é inexorável. Mas, como ministra, a vida também não era muito normal, não – disse Dilma em Seul, pouco antes de seguir para a reunião de cúpula do G20.
Em uma rápida entrevista a jornalistas brasileiros, Dilma afirmou que pensa em suas responsabilidades como primeira mandatária do país.
– Eu penso todo dia quando eu acordo é que tenho de desempenhar esse papel para o qual fui eleita. É uma missão que vou desempenhar, que vou levar a bom termo – disse.
Ao ser perguntada sobre o que seria mais difícil, se a formação do governo ou a resolução dos problemas reais do país, disse que, “sem dúvida, resolver os problemas reais da nação”.
Entre os problemas que a esperam na volta ao país, semana que vem, o reajuste do salário mínimo será tema de reuniões entre a presidenta eleita e líderes sindicais. Na terça-feira, o Congresso deverjá iniciar a votação da proposta inicial, que aumenta para R$ 538 o atual salário (R$ 510), mas a expectativa das centrais é que, em 2011, haja uma antecipação do índice previsto para 2012.
– Os R$ 538 estão na peça orçamentária. O presidente Lula e a presidenta eleita devem analisar na volta de Seul (capital sul-coreana). As centrais estão propondo antecipação do reajuste de 2012 para dar um reajuste um pouco maior. A previsão de (crescimento) da economia para este ano é de 8% esse ano, mais 4,5% de inflação. O reajuste em 2012 seria em torno de 12% – disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, durante entrevista a jornalistas.
Padilha voltou a afirmar que a aprovação do Orçamento ainda este ano é a prioridade do governo.
– O calendário inicialmente está mantido. Não vamos permitir que nos últimos meses do governo Lula haja descontrole em relação aos gastos do Orçamento – afirmou.
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