sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"NÃO TOMARÁS O SANTO NOME DE DEUS EM VÃO"

Em nenhuma época da humanidade se falou tanto de Deus. Basta ligar uma TV com parabólica e contar os canais ditos confessionais. São pelo menos quatro em nome dos católicos e três em nome dos evangélicos. Mas, não é só. Pregadores desfilam programas comprados em outros canais comerciais tanto durante o dia como pelas madrugadas. Há uma super oferta de pregações, cultos, missas, terços – misturados com ofertas de produtos -, sempre em nome de Deus.

Ligando o rádio, vamos ouvir mais uma vez uma série de programas católicos e evangélicos. Grande parte é programa musical, com uma pobreza literária, melódica, bíblica, teológica de arrepiar os ossos, com meia dúzia de palavras já previsíveis – amém, aleluia, glória, eu e Deus, Deus e eu, eu te amo – inundando nossos ouvidos.

Essa música invadiu também a liturgia e hits ocupam o lugar da boa música litúrgica, trazendo o individualismo até no momento do Pai Nosso. O capital demorou para descobrir que religião é um ótimo comércio, mas agora explora até a última medalhinha milagrosa para fazer dinheiro.

Era inevitável que as religiões, inclusive o cristianismo, se aproximassem dos meios de comunicação. Afinal, evangelho quer dizer exatamente "boa notícia". Portanto, são meios que podem ser postos a esse serviço.

Porém, o que se está fazendo com esses meios de comunicação em nome de Deus é que é a questão. Não se espere daí uma palavra profética em nome da justiça, dos pobres, porque é um anúncio mutilado que precisa sobreviver segundo as regras do mercado.

O certo é que, em nenhuma outra época, se manipulou tanto o nome de Deus como nessa que vivemos. Nessas eleições, então, chegou-se às raias da aberração. A difamação, calúnia, parcialidade, inclusive por alguns bispos católicos – usaram até o nome da CNBB -, perdeu qualquer referência bíblica de respeito pelo próximo.

"Levantar falso testemunho", ou "invocar o Santo nome de Deus em vão", tornou-se prática do cotidiano. Com dois pesos e duas medidas para avaliar e recomendar candidatos, perdeu-se até o senso da dignidade.

Ninguém manipula a Deus, mas pode manipular seu nome. Entramos no terreno perigoso da caça às bruxas, com um vasto respaldo dos meios de comunicação.

Roberto Malvezzi é ex-coordenador da CPT e agente pastoral.

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