quarta-feira, 28 de novembro de 2012
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Mostre as algemas, Zé Dirceu!
Foi o que teria dito a José Dirceu, em Setembro de 1969, um dos
presos políticos naquele histórico momento de resistência à ditadura
militar em que 15 prisioneiros do regime de exceção e arbítrio, que se
instaurara no Brasil, foram libertados em troca do embaixador americano
– na fotografia aparecem 13, apenas uma mulher.
Exceção e arbítrio. Palavras malditas. Palavras-emblema de tempos sombrios.
Segundo relato de Flavio Tavares, hoje jornalista e escritor, ele
teria sussurrado aos companheiros na ocasião: “Vamos mostrar as
algemas”. Fez isso num insight “de momento” ao notar que os presos que
estavam ali perfilados, alguns agachados, como um time de futebol
campeão, numa forçada pose para uma foto que viria a se tornar
histórica, escondiam as algemas. E por que escondiam as algemas aqueles
jovens? Talvez por vergonha. Talvez porque estivessem preocupados em
como aquela imagem poderia machucar ainda mais seus familiares e
parentes mais próximos. Ou talvez, simplesmente, porque já estavam por
demais combalidos e abalados moral e emocionalmente para se preocuparem
com aquele peculiar adereço do arbítrio. Não se sabe ao certo, tampouco
importa. Mas, insistiu Tavares, naquele “insight” que, ao contrário,em
vez de esconder, as exibisse.
Mostre as algemas, Zé! Exorto-lhe nos dias que correm hoje. Dias de incipiente e vilipendiada democracia.
Na foto, podem verificar, percebe-se nitidamente o Zé Dirceu exibindo, intrépido, as malditas algemas.
Eu que não fui amigo daquele jovem idealista algemado de outrora,
tampouco conheci o suposto homem “todo-poderoso” do governo; logo eu que
o combati na disputa política, até com palavras duras, eu que nunca o
vi mais magro, ouso lhe fazer a mesma súplica: Mostre as algemas, José Dirceu!
Não tenha vergonha de nada; tenha orgulho. Você ainda será, por vias
transversas, um preso político. Sim, orgulho! Em que pese a maledicência
covarde daqueles que, assim como naqueles dias sombrios de 1969, hoje
lhe apontam o dedo, xingam e condenam. São os mesmos – “imortais”,
“eternos” porta-bandeiras da (falsa?) moral. Ora se são!
Mostre as algemas, Zé!
Exiba a todos, daqui e para o resto do mundo! Mostre a todos o que se
faz aqui no Brasil a homens como você, que prestaram valorosos serviços
à pátria; que lutaram com destemor pela ditadura; que ajudaram a eleger
o Lula; que empenharam a sua vida e juventude no afã de mudar um pouco a
feia face desse país tão injusto com seus filhos, ajudando a implantar
políticas públicas que tiraram milhões da miséria e do desalento.
Mostre a p* dessas algemas, cara! Para o bem e para o mal. Para o orgulho dos amigos e regozijo dos inimigos.
Confesso que esperava que o julgamento do STF fosse “emblemático”,
justo. Não “justo” pelo mesmo metro, critério ou “premissas” com que a
imprensa insuflou e ensandeceu as galerias. Mas justo “de verdade”: que
fossem condenados os culpados, aqueles que tivessem suas culpas
efetivamente comprovadas. Sim, que fosse uma firme sinalização rumo ao
fim da impunidade no Brasil. Mas não foi isso exatamente o que se viu.
Não foi isso que testemunhamos. Houve erro e exagero. Do Supremo. Da
mídia grande em geral. Uma caricatura. Entre erros e acertos, a
injustiça foi soberana.
Os ministros demonstraram-se, desgraçadamente, um tanto tíbios,
vaidosos e suscetíveis à pressão e clamor da turba, de modo
irresponsável manipulada e insuflada pela opinião publicada.
Você foi condenado sem provas. Isso é fato, irretorquível. Foi
condenado sem provas, repito. Foi condenado com base em suposições e
suspeitas, com bases em capciosos “artifícios” jurídicos, tais como a
hoje célebre “teoria do domínio do fato”. Uma excrescência, uma espécie
de “licença poética” do golpismo – com o perdão dos poetas, por aqui
aproximar as palavras “poética” e “golpismo”.
Eu poderia “achar” que você era culpado. O meu vizinho poderia achar
que você era culpado. O taxista poderia achar. Todo mundo poderia
“achar” que Zé Dirceu era culpado. Mas um juiz, seja do Supremo ou de 1ª
instância, não pode, em absoluto, “achar” que você ou qualquer outro é
culpado. Isso é uma ignomínia – como você tem se cansado de dizer,
reiteradas vezes, em suas manifestações. Não nos cansemos de,
indignados, exclamar: uma excrescência, uma ignomínia!
Zé, mostre as algemas! Elas são o espúrio troféu que lhe ofertam os verdugos!
Nunca pensei em sair do meu país, Zé, agora já penso com carinho e
desconforto nessa possibilidade. Como posso viver num país em que minhas
garantias fundamentais de cidadão não são respeitadas?!
Que país é esse?! Que Justiça é essa?!
Quebrou-se a pedra fundamental de toda nossa estruturação jurídica: a
presunção da inocência. Em seu lugar colocaram a presunção da culpa.
Parece piada, de mau gosto, decerto, mas não é. Como já disse antes,
repito: não se é permitido fazer graça com a desgraça alheia. E sua vida
foi desgraçada, Zé.
Mostre as algemas!
Veja bem, se você – insisto, reitero – um homem que tantos serviços
prestou ao país, um homem respeitado por intelectuais, políticos e
autoridades do mundo todo foi enxovalhado dessa maneira, submetido à
execração pública pela mídia. Desonrado, chamado de “quadrilheiro”,
“mensaleiro”, “ladrão”, o que fariam com um “poeta marginal” como eu? Um
homem qualquer, sem galardão algum, sem cânone, sem mérito.
Parafraseando certa atriz de cenho angelical, “namoradinha” desse mesmo
Brasil: tenho medo.
Não sei que monstro o STF e a grande imprensa estão ajudando a criar. Mas uma coisa eu lhe asseguro: é assustador.
Para aqueles que, sem questionar, acham justa a sua condenação e
prisão eu pergunto; para os “inocentes úteis” que aceitam sem titubear
esses consensos forjados e essas verdades absolutas que a grande mídia
sopra, todos os dias, em nossas consciências nos telejornais e nas
manchetes dos jornais estampadas nas bancas; faço-lhes a pergunta que
não quer calar: por que criminalizam e prendem somente os petistas e mais alguns “mequetrefes” da chamada “base aliada” do governo Lula?
Por que essas práticas de sempre na política, hipocrisia à parte,
agora “ilícitas” e “criminosas”, só são permitidas aos “de sempre”? Por
que os sessenta e tantos investigados no chamado “mensalão mineiro” [não
é tucano?!] não foram acusados/denunciados? E não serão jamais – pois
para estes o crime é eleitoral; é caixa 2, já prescreveu [“Dois pesos,
dois mensalões” – by Jânio de Fritas]. Já quando são petistas os agentes
da ação… é corrupção; é “golpe”; são “práticas espúrias”,
“criminosas” de um partido, digo de uma “quadrilha”, em “sua sanha de se
perpetuar ad eternum no poder”. Não, essas palavras não vieram da
tribuna do Senado ou da Câmara dos Deputados, não saíram da boca de
algum político da oposição, mas – pasmem! – foram proferidas por
ministros do Supremo. Por ministros do Supremo, repito! Juízes na Ação
Penal nº 470. Vejam a que ponto chegamos!!!
Mostre as algemas, Zé! Mostre as algemas!
Essas tais “práticas ilícitas” ou “criminosas” não deviam ser
permitidas a ninguém – não é mesmo? A Justiça não deveria ser igual
para todos?!
Qual a resposta a esse singelo por quê?
Por que só os petistas são condenados, execrados e presos?
A resposta também é simples: para que o poder permaneça nas mãos dos “de sempre”, nas mãos dos eternos “donos do poder”.
As chamadas “regras do jogo”, até as bastardas, servem apenas para a
parte podre das nossas elites; quando é para os “do lado de cá” aí deixa
de ser “regra do jogo”, passa a ser crime; “práticas espúrias”; “compra
de voto”.
Faço um singelo convite a todos: vamos pensar o país, no qual a
gente vive, um pouco além da hipocrisia, do partidarismo, do “falso
moralismo” e dos “manchetismos grandiloquentes” de uma imprensa que
serve aos interesses de determinada classe social e ideologia. Mais
temperança e equilíbrio aos juízes Supremos e nem tão supremos assim, o
chamado “cidadão comum”.
Não podemos nos dobrar a esse estado de coisas. Não podemos nos calar
e assim sermos cúmplices e testemunhos silentes dos erros dos
tribunais. Repito: o Supremo exagerou; a mídia exagerou.
Quadrilha?! Onde? Compra de votos?! Penas de reclusão superiores a 30
anos! Há aí um nítido erro na tipificação dos crimes, nas condenações e
exagero na dosimetria das penas. O que é uma pena. Pois isso poderá até
favorecer aos condenados, pois essas condenações injustas e essas penas
exageradas certamente serão revistas algum dia, por esse ou por outro
tribunal. Espero, sinceramente, que sejam revistas por esse mesmo
colegiado, pois ali também estão homens de valor. E que essa vergonha,
esse grave equívoco não se perpetue.
Nesse momento, só me resta dizer…
Mostre, com orgulho, as algemas, José Dirceu!
*Lula Miranda é poeta, cronista e Economista. Foi um dos
nomes da poesia marginal na Bahia na década de 1980. Publica artigos em
veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros
Amigos, Observatório da Imprensa, Fazendo Média e blogs de esquerda.
Lula Miranda é
poeta, cronista e Economista. Foi um dos nomes da poesia marginal na
Bahia na década de 1980. Publica artigos em veículos da chamada imprensa
alternativa, tais como Carta Maior, Caros
Amigos, Observatório da Imprensa, Fazendo Média e blogs de esquerda.
Fonte: http://www.esmaelmorais.com.br
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
UMA HISTÓRIA RICA DE ORGANIZAÇÃO POPULAR EM COREAÚ
Acentuadamente a partir da década de 80, houve em Coreaú uma
efervescência progressista, encabeçada, sobretudo, por agricultores, que
culminaria na fundação de algumas instituições de importantíssimo papel
no processo de discussão e de organização local popular.
Os primeiros traços se encontram nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), fundamentadas da Teologia da Libertação, com seus líderes formados no seio do Movimento Dia do Senhor, da Diocese de Sobral – onde se pretendia propiciar a formação crítica de lideranças camponesas, a partir da problematização da realidade à luz da Bíblia. Tratava-se de um esforço em formar leigos atuantes nas comunidades, promovendo sua organização em prol da luta por direitos.
Ensejada pela discussão das CEBs, houve a fundação de várias associações comunitárias, e de uma central, a ADEC (Associação Desenvolvimento Comunitário de Coreaú), sediada então onde fica atualmente o Salão Paroquial, até meados da década de 90, quando foi destituída do prédio pelo pároco recém-chegado. Tal prédio teria sido construído a partir de uma cooperação Alemanha-Brasil, para servir à comunidade enquanto espaço de reunião, celebração, formação e organização comunitária.
Na ADEC estão fincados os ramos que constituiriam a organização da Fundação CIS, da Sede de Coreaú, e, muito posteriormente, da AEDI de Araquém, assim como também estabelece ligação com a ADECUBA, de Ubaúna, e várias outras instituições. Doravante, neste blogue, teceremos mais comentários acerca dessa história popular...
Os primeiros traços se encontram nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), fundamentadas da Teologia da Libertação, com seus líderes formados no seio do Movimento Dia do Senhor, da Diocese de Sobral – onde se pretendia propiciar a formação crítica de lideranças camponesas, a partir da problematização da realidade à luz da Bíblia. Tratava-se de um esforço em formar leigos atuantes nas comunidades, promovendo sua organização em prol da luta por direitos.
Ensejada pela discussão das CEBs, houve a fundação de várias associações comunitárias, e de uma central, a ADEC (Associação Desenvolvimento Comunitário de Coreaú), sediada então onde fica atualmente o Salão Paroquial, até meados da década de 90, quando foi destituída do prédio pelo pároco recém-chegado. Tal prédio teria sido construído a partir de uma cooperação Alemanha-Brasil, para servir à comunidade enquanto espaço de reunião, celebração, formação e organização comunitária.
Na ADEC estão fincados os ramos que constituiriam a organização da Fundação CIS, da Sede de Coreaú, e, muito posteriormente, da AEDI de Araquém, assim como também estabelece ligação com a ADECUBA, de Ubaúna, e várias outras instituições. Doravante, neste blogue, teceremos mais comentários acerca dessa história popular...
Fonte: Blog do Ditim
Comissão da Verdade vai discutir atuação de igrejas durante a ditadura
A
Comissão Nacional da Verdade criou um grupo de trabalho para analisar o
papel das igrejas Católica e evangélicas durante o regime militar
(1964-1985). A primeira reunião será na quinta-feira 8 em São Paulo. O
grupo pretende aprofundar as discussões sobre a atuação que as igrejas e
os religiosos tiveram tanto na resistência ao regime militar quanto na
colaboração com a repressão.
O trabalho do grupo será todo desenvolvido com a assessoria de
pesquisadores autônomos e da sociedade civil especializados em ciências
da religião, história e sociologia. No primeiro encontro, eles
apresentarão os temas de pesquisa e farão o planejamento da agenda de
trabalho para os próximos meses. A coordenação dos trabalhos é do
professor Paulo Sérgio Pinheiro, membro da comissão.
Na próxima semana, entre os dias 16 e 18, a Comissão Nacional da
Verdade terá atividades no interior do Pará para averiguar questões
referentes à Guerrilha do Araguaia, ocorrida no período de 1960 a 1970.
Um dos temas será a análise sobre a atuação na guerrilha da etnia Suruí,
que atualmente vive na Terra Indígena Sororó. Há controvérsias sobre o
assunto apesar de existir informações sobre a exploração de indígenas
desse grupo pelos militares.
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