Olho os meus companheiros, eles estão taciturnos, disse Carlos Drummond de Andrade. Pensem nas crianças mudas, telepáticas, escreveu Vinícius de Morais e depois Ney Matogrosso disse o através da música. Eu vejo os jovens cálidos, eu os vejo alienados, rezo por eles.
Olho os homens ao meu lado, eles movem-se mais depressa. Olho a vida ao meu lado, ela passa mais rapidamente. Passa correndo, passa mais apressadamente. O tempo que outrora não passava, agora escorre-me por entre os dedos, como água ele flui numa correnteza, à vazão crescente, num fluxo perfeito. Fazendo uma paráfrase de Machado de Assis, eu mato o tempo e ele me enterra. Estou na casa dos vinte e cinco e me lembro que ontem estava na casa dos quinze. O tempo soterra. Amanhã estarei na casa dos cinquenta e depois de amanhã, espero, estarei na casa dos oitenta. Vejo a multidão de homens e mulheres e, um a um, eles e elas passam por mim apressados. Passam correndo, aturdidos, atordoados. Nas ruas não os conheço, pois eles passam ligeiro e eu não os reconheço.
Tempo do meu tempo. O tempo perguntou pro tempo, tempo para o meu texto, texto para minha voz …. rezo por nós.
Pensem numa lei do movimento que nos confirma a rápida passagem dos tempos, o seu malabarismo, a sua dança. Como uma bela dançarina que nos rouba a atenção, ou a esperança. Olhem para alguns anos atrás e vejam que há dias éramos como diria os poetas, cálidas/telepáticas crianças. E nos olhem hoje e nos vejam jovens/adultos alienados, desiludidos, ocupados e muitas vezes sem esperança. E vejam o tempo passando sem nos esperar, apressado e em constante mudança. Como uma porta que não se abre para nós e nem para os estranhos. Vendo tudo com entusiasmo, só nos resta uma coisa: “Sentir tudo de todas as maneiras. Viver tudo de todos os lados. Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis, ao mesmo tempo realizar em si toda a humanidade de todos os momentos, num só momento difuso, profuso, completo e longínquo. (...) Sentir tudo de todas as maneiras, ter todas as opiniões, ser sincero contradizendo-se a cada minuto, desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito, e amar as coisas como Deus”. (A Passagem das Horas, Fernando Pessoa).
Enfim, pensem nas pessoas estáticas, na inércia, no marasmo, na inoperância até de pensamento, pensem nas crianças que daqui a segundos serão adultas e pensem nos adultos que logo mais serão idosos. E pensem finalmente em como o tempo nos escorre entre os dedos e veja que amanhã tudo pode não mais ser como era antigamente, ou hoje não é mais como foi um dia.Tudo parece estranho como este texto, ou como a boa música do Ney Matogrosso, ou como a poesia de quem não sabia. Por isso, o tempo é agora, a hora é essa, o local é aqui, mas pode ser qualquer um. O tempo presente, distante. A vida presente, mutante. A metamorfose em mim, a mudança em todos nós. A lua, a luz, as estrelas, os vários sóis.
Dedique tempo e atenção para viver o tudo no agora, pois que…. O tempo passa mais depressa e nos deprime e entristece. Nos deixa maduros, nos entorpece, nos envelhece.
Mais coisas a serem ditas o tempo dirá, no seu fim, no seu carma. “Os anos deixam rugas na pele, mas a falta de entusiasmo deixa rugas na alma ” (Michael Lynberg)
Valdecir Ximenes
*Texto publicado inicialmente no MANDACARU, informativo da AEDI